CHEFE DAN GEORGE
O MEU CORAÇÃO VOA ÀS ALTURAS
{ Este ensaio vem juntar-se a outros no website Folhas de Oliveira acerca de povos indígenas , em todos os Continentes, que possuem uma sabedoria e uma legitimidade que nós, como conquistadores culturalmente-deslocados, temos necessidade de negar. E essa negação torna-se uma doença para eles e para nós. Abuso étnico, criminalidade étnica. São bem vindos mais ensaios deste tipo. Bárbara Stanton, uma Amiga de Deus, do Alasca, mandou-nos este livro para a Biblioteca Fioretta Mazzei e, nesse mesmo dia, um casal canadiano que visitou o cemitério e a biblioteca, conheceu pessoalmente e trabalhou com o Chefe Dan George, há um quarto de século. Este livro foi publicado por Saanichton, British Columbia: Hancock House Publishers, 1979. Merece voltar a ser publicado e estar em todas as bibliotecas das escolas. Foi coincidência este livro ter vindo até Florença e no dia seguinte, igualmente, amigos ao vivo do Chefe Dan George, terem entrado na biblioteca onde ele veio parar? É antes um sinal! Seguidamente irá ser traduzido em Português a fim de que possa ser lido lá, em Angola e no Brasil.
As palavras de Bárbara no livro: 'Para a
Júlia, - espero que as pessoas que o lerem aprendam
sobre o nosso povo Nativo da América - Bárbara.
A Memória do Meu Povo
Alcança o
Começo
de
Todas
as Coisas
Chefe Dan George
OBRIGADO:
AO MEU PAI
Porque
me deu engenho, vigor
e o
conhecimento do meu passado.
À MINHA MÃE
Porque
me deu o amor pela vida
e
ensinou-me a respeitá-la.
À MINHA MULHER
Porque
partilhou comigo o fardo
quando
ele ameaçou tornar-me o passo lento
e ficou
a meu lado
quando
viajámos com alegria.
AOS MEUS FILHOS
E AOS FILHOS DELES
Porque
nos seus olhos
me vi a
mim próprio.
ISTO É BOM!
Minha mãe era duma bondade
que abraçava a vida inteira.
Sentia-se bem dando
tudo quanto tinha.
É esta a tradição
das mulheres nativas.
Os jovens
são os pioneiros
de novos caminhos.
Uma vez que enfrentam
demasiadas tentações
não será fácil
saber o que é melhor.
Palavras a um Neto
Talvez haja um dia
em que te queiras sentar ao meu
lado
pedindo conselho.
Espero lá estar
mas, bem vês,
estou a ficar velho.
Não existe a promessa
de que a vida
cumprirá as nossas esperanças,
especialmente as esperanças dos
velhos.
Portanto, escrevo daquilo que
sei
e um dia os nossos corações
se encontrarão nestas palavras
- se deixares que isso aconteça.
No seio dum país
sem silêncio
cada um tem de arranjar o seu
lugar.
Aqueles que gastaram
muitas vezes os sapatos,
sabem onde pôr os pés.
Não são os sapatos deles
que podemos usar,
apenas as suas pegadas
podemos seguir,
- se deixares que isso aconteça.
Vens duma raça envergonhada.
Nossos são os hábitos do
silêncio.
Sempre fizemos todas as coisas
duma forma suave,
tal como o ribeiro
que evita a rocha dura
na sua busca do mar
e se encontra com o veado ao
passar.
Também tu deves seguir o caminho
da tua própria raça.
É seguro e profundo,
sólido e duradouro.
És tu
- se deixares que isso aconteça.
És uma pessoa de pouco meios,
mas é melhor ter pouco
do que é bom,
que possuir muito
do que não é bom.
Isto, o teu coração há-de
sabê-lo,
- se deixares que isso aconteça.
Presta atenção aos dias
em que a chuva corre à vontade,
na sua cor cinzenta
está a semente de muita
reflexão.
O céu debruçado cá em baixo
pinta novas cores
na terra.
Depois da chuva
a erva despirá o orvalho,
o nevoeiro levantar-se-á das
árvores,
uma nova luz dará brilho ao céu
e brincará nos pingos
dependurados por toda a parte.
O teu coração baterá com força
uma alegria nova
- se deixares que isso aconteça.
Cada dia traz uma hora mágica.
Escuta-a!
As coisas murmurarão os seus
segredos.
Saberás
o que enche as ervas de bondade,
o que faz os dias mudarem-se em
noites,
o que move as estrelas
e provoca a mudança das
estações.
Quando acabares por conhecer
alguns dos sábios modos da
natureza
cuidado com a tua complacência,
porque não podes ser mais sábio
que a natureza.
Podes apenas ser tão sábio
quanto ela
como qualquer homem há-de sempre
esperar sê-lo,
- se deixares que isso aconteça.
Os nossos caminhos são bons
mas apenas no nosso mundo.
Se gostas da chama
na torcida do homem branco,
aprende as suas maneiras
para poderes suportar-lhe a
companhia,
no entanto, quando entrares no
mundo dele,
caminharás como um estranho.
Por algum tempo
a desorientação,
como um espírito mau,
te atormentará.
Então, descansa sobre a terra
santa
e espera pelo bom espírito.
Ele regressará com novas
caminhos
como dom seu para ti,
- se deixares que isso aconteça.
Serve-te da herança do silêncio
para observares os outros.
Se a cobiça tomou o lugar da
bondade
nos olhos de um homem,
vê-te a ti nele
e então aprenderás a compreender
e a proteger-te a ti próprio.
Não desprezes o fraco,
é a compaixão
que te fará forte.
Não te cai
o arroz na cesta
enquanto a tua respiração
arrasta para longe a palha?
Em tudo existe algo de bom
- se deixares que isso aconteça.
Quando as tempestades nos cercam
e os olhos não conseguem
encontrar o horizonte
podes perder muito.
Permanece com o teu amor pela
vida
porque ele é o próprio sangue
a correr-te nas veias.
À medida que atravessas os anos
encontrarás muita serenidade
no teu coração.
É o dom da idade.
E as cores do Outono
serão profundas e ricas,
- se deixares que isso aconteça.
Ao ver para além dos dias de agora
Alcanço uma visão:
Vejo os rostos do meu povo,
os filhos dos teus filhos,
as filhas das tuas filhas,
risos enchem o ar
que não mais é amarelo e pesado,
as máquinas morreram,
sossego e beleza
voltaram à terra.
Os modos suaves da nossa raça
puseram-nos de novo
nos dias dos antigos.
É bom viver!
É bom morrer!
- Isto acontecerá.
De todos os ensinamentos que
recebemos
este é o mais importante:
Nada te pertence
daquilo
que existe,
do que tomas para ti,
tens de partilhar.
Toca numa criança - elas são o meu povo.
A luz do sol não deixa marcas na erva.
Assim nós, também, passamos
silenciosos.
Os rostos do passado são como folhas que assentam no
chão . . .
Tornam a terra rica e espessa,
para que novos frutos surjam em cada Verão.
Não mais te posso dar uma mão cheia de bagas de
presente,
não mais as raízes
que cavo são usadas como um
remédio,
não mais posso cantar uma canção para agradar
ao salmão ,
não mais o cachimbo que fumo faz que
outros se sentem comigo na amizade,
não mais alguém a querer ir comigo à montanha azul
para rezar,
não mais o veado confia nas minhas pegadas . . .
Se falares com os animais, eles falarão contigo
e conhecer-vos-eis mutuamente.
Se não falares com eles, não os conhecerás,
e do que não conheces terás
medo.
O que tememos destruímo-lo.
Ó terra,
pela força
no meu coração,
Eu Te agradeço.
Ó nuvem,
pelo sangue
no meu corpo,
Eu Te agradeço.
Ó fogo,
pelo brilho
nos meus olhos,
Eu Te agradeço.
Ó sol,
pela vida
que me deste,
Eu Te agradeço.
Sou um nativo da América do Norte.
No decurso da minha vida vivi em duas culturas distintas. Nasci numa cultura que vivia em casas comunitárias. A casa do meu avô tinha oitenta pés de comprimento. Tinha o nome de casa do fumo e ficava em baixo, junto à praia, ao longo da enseada. Todos os filhos do meu avô e as suas famílias viveram nesta grande habitação. Os dormitórios eram separados por cobertores feitos de caniços de junco, mas uma fogueira aberta no meio servia as necessidades de cozinha de todos. Em casas deste género, através da tribo, as pessoas aprendiam a viver umas com as outras; aprendiam a servirem-se umas às outras; aprendiam a respeitar os direitos umas das outras. E as crianças partilhavam os pensamentos do mundo do adulto e estavam rodeadas de tias e tios, e primos que as amavam e não as ameaçavam. O meu pai nasceu numa casa destas e aprendeu desde a infância a amar as pessoas e a estar à vontade com elas.
E, para além desta mútua aceitação, havia um profundo respeito por todas as coisas da natureza que os rodeava. O meu pai amava a terra e todas as suas criaturas. A terra era a sua segunda mãe. A terra e tudo o que ela contém era um dom de See-see-am . . . e a forma de agradecer a este grande espírito era servir-se dos seus dons com respeito.
Lembro-me quando era rapazinho de ir pescar com ele, rio Indiana acima, e ainda sou capaz de o ver quando o sol se levantava por cima do alto da montanha, de manhã cedo . . . ainda sou capaz de o ver de pé à beira de água, com os braços erguidos acima da cabeça, enquanto suavemente gemia . . . 'Obrigado, obrigado'. Isto deixou uma marca profunda no meu jovem espírito.
E nunca esquecerei o seu desapontamento quando me apanhou uma vez a arpoar peixe só para me divertir. 'Meu Filho' disse ele, 'O Grande Espírito deu-te esses peixes como irmãos, para te alimentarem quando tens fome. Tens de os respeitar. Não podes matá-los só porque é divertido'.
Esta foi, pois, a cultura na qual nasci e durante alguns anos a única que realmente conheci ou saboreei. Eis a razão pela qual sinto que me é difícil aceitar muitas das coisas que vejo em meu redor.
Vejo pessoas que vivem em casas do fumo cem vezes maiores que aquela que conheci. Mas as pessoas de um apartamento nem sequer conhecem as pessoas do apartamento ao lado, muito menos se importam com elas.
Foi-me também difícil compreender o profundo ódio que existe entre as pessoas. É custoso entender uma cultura que justifica a morte de milhões de pessoas em guerras passadas e neste preciso momento está a preparar bombas para matar ainda um maior número. É-me difícil entender uma cultura que gasta mais em guerras e armas para matar do que gasta com a educação e a saúde, para ajudar e desenvolver.
É-me difícil entender uma cultura que não apenas odeia e luta contra os seus irmãos mas chega ao ponto de atacar a natureza e abusar dela. Vejo o meu irmão branco andando por aí a eliminar a natureza das suas cidades. Vejo-o despir os montes por completo, deixando feridas horrorosas na face das montanhas. Vejo-o a arrancar coisas do seio da mãe terra como se ela fosse um monstro que recusasse partilhar com ele os seus tesouros. Vejo-o atirar veneno para as águas, indiferente à vida que ali mata; e sufoca o ar com fumos mortíferos.
O meu irmão branco faz muitas coisas bem feitas porque é mais esperto que o meu povo, mas pergunto-me se ele sabe amar bem. Pergunto-me se alguma vez aprendeu realmente a amar. Talvez que ame apenas as coisas que são dele mas nunca tenha aprendido a amar as coisas que estão fora e para além dele. E isto, obviamente, não é de todo amar, porque o homem tem de amar toda a criação ou então nada amará dela. O homem tem de amar por inteiro senão torna-se o mais baixo dos animais. É o poder do amor que o torna o maior de todos eles . . . porque apenas ele, de entre todos os animais, é capaz de amar.
O amor é algo que tu e eu temos de ter. Temos de o ter porque o nosso espírito alimenta-se dele. Temos de o ter porque sem ele ficamos fracos e débeis. Sem amor a nossa auto-estima enfraquece. Sem ele a coragem falha-nos. Sem amor não conseguimos olhar o mundo com confiança. Em vez disso, voltamo-nos para dentro e começamos a alimentar-nos das nossas próprias personalidades e, pouco a pouco, destruímo-nos a nós mesmos.
Tu e eu precisamos da força e da alegria que vem de sabermos que somos amados. Com isso somos criativos. Com isso caminhamos sem cansaço. Com isso, e só com isso, somos capazes de sacrifício pelos outros.
Houve alturas em que todos nós desejámos tão desesperadamente sentir uma mão securisante sobre nós ... houve alturas de solidão em que desejámos tanto um braço forte a envolver-nos . . . Não consigo dizer-vos quantas saudades tenho da presença da minha mulher quando regresso duma viagem. O amor dela foi a minha maior alegria, a minha força, a maior das minhas benções.
Receio que a minha cultura tenha pouco a oferecer à vossa. Mas a minha cultura apreciou a amizade e o companheirismo. Não encarou a privacidade como coisa a que tenhamos de estar agarrados, porque a privacidade ergue muros e muros para lançar a desconfiança. A minha cultura vive em grandes comunidades de família e, desde a infância, as pessoas aprendem a viver com os outros.
A minha cultura não apreciou a acumulação da posse privada; na verdade, acumular era fazer algo de vergonhoso entre o meu povo. O Índio encarava todas as coisas da natureza como suas e esperava poder partilha-las com os outros tirando apenas o que precisava.
Todos gostamos de dar e de receber. Ninguém deseja apenas receber sempre. Foi muito o que retirámos da vossa cultura . . . Desejava que tivésseis retirado alguma coisa da nossa . . . porque havia nela algumas coisas boas e belas.
Rapidamente se tornará demasiado tarde para conhecer a minha cultura, porque a integração pesa sobre nós e em pouco tempo não teremos outros valores senão os vossos. Já muitos dos nossos jovens esqueceram os velhos costumes. E muitos foram envergonhados pelos seus costumes Índios, pela troça e pelo ridículo. A minha cultura é como um veado ferido que se arrastou fugindo para a floresta para sangrar e morrer sozinho.
A única coisa que nos pode verdadeiramente ajudar é o amor genuíno. Têm de nos amar de verdade, têm de ser pacientes connosco e partilharem connosco. E nós temos de vos amar - com um amor genuíno que perdoa e esquece . . . um amor que perdoa os terríveis sofrimentos que a vossa cultura trouxe à nossa quando nos varreu como uma onda que se despenha ao longo da praia . . . com um amor que esquece e levanta a cabeça, e vê nos vossos olhos um amor que responde, feito de confiança e de aceitação.
É isto ser irmão . . . algo menos que isto não é digno do nome.
Tenho dito.
Dizem que não mostramos os nossos sentimentos.
Não é verdade.
Tudo está cá dentro,
onde o coração martela a riqueza
das nossas emoções.
O rosto apenas fala
a língua dos anos que passam.
Conduz um carro, vê televisão,
e os teus dedos terão
dificuldade
em recordar a sua destreza.
Mais rápido soa o tambor
quando os espíritos se aproximam
abana a matraca
e nós dançamos.
A muitos portos naveguei na minha canoa,
muitas vezes contra ventos
fortes.
Escolhe bem a árvore meu irmão,
se queres que te conduza a
portos longínquos.
Quando um homem faz
o que é necessário que se faça,
desconhece
o significado do tempo.
Durante muitas horas
me sentei
nos degraus da soleira da minha casa,
e enquanto me encostava
saboreei a natureza
e senti-lhe o latejar da vida.
Mas, os estranhos que passavam
achavam que era preguiçoso.
Todos nós deambulamos
pela vida
unidos pelo laço da criação
e tornamo-nos irmãos
através da gratidão.
Temos muito por que estar agradecidos.
Que cada um
fale com o Ser Supremo
à sua maneira.
Um homem que não é
capaz de dar graças
pela comida que come
caminha sem as benções da natureza.
Houve tempos em que as
pessoas sabiam viver em harmonia,
agora o silêncio da natureza
chega a poucos.
Há muitos que olham,
mas apenas alguns que vêem.
A terra é santa, os pés que caminham sobre ela, abençoados.
Se as lendas caem no
silêncio,
quem ensinará às crianças
os nossos costumes?
Quando um homem se
senta em sossego
para escutar os ensinamentos do seu espírito
muitas coisas virão a ele
de conhecimento e compreensão.
Temos tido a maior das sortes
por nunca termos precisado de comunicar
de outra maneira que não pelo pensamento e pela palavra.
Desta maneira, apenas, não mais será possível.
Diminuímos em número e
pagámos
pelo passado em sofrimento e dor
e disso nenhuma geração de pessoas nativas
ficou sem a sua parte.
Sofremos muito, e agora encaramos o facto de tudo perder
a menos que preservemos tudo quanto tenha restado
dos dias dos nossos antepassados.
Para fazer isto, a palavra falada não chega.
Quando um pensamento
se forma
precisa muito tempo para crescer.
O silêncio entre as palavras ditas
sempre foi o sinal da deliberação.
Nestes novos tempos do mundo moderno
em que tudo adquiriu um valor
o silêncio tornou-se tempo.
O tempo não utilizado tornou-se tempo perdido.
Dizem-nos: 'Tempo é dinheiro'.
É mais difícil
encontrar alguém
que escute, mas toda a gente lê.
Portanto, temos de escrever sobre os nossos modos,
as nossas crenças, costumes, moral,
como olhamos para as coisas e porquê,
como vivíamos e como vivemos agora.
Para realizar isto, precisamos dos velhos e dos novos.
Depressa existirão
muitos livros
que falarão dos nossos modos
e até talvez envergonhem aqueles
que pensam que somos inferiores
apenas porque somos diferentes.
Para os que acreditam no poder
da palavra escrita, estes livros
proclamarão o nosso valor cultural.
Assim foi feito para outras raças
e para os seus ensinamentos.
É deste modo que os nossos jovens
vos trarão a verdadeira imagem
do nosso povo nativo
e hão-de destruir a distorção
de que fomos vítimas
por tanto tempo.
Então, havemos de prosperar em tudo.
Das nossas crianças surgirão aqueles valentes,
que transportarão os fachos até aos lugares
onde descansam os nossos antepassados.
Aí inclinaremos as nossas cabeças
e cantaremos o cântico da sua veneração.
É assim que o vazio será preenchido
entre as antigos e as novas maneiras.
O jovem e o velho são quem está mais perto da vida.
Amam preciosamente cada minuto.
Se os muito velhos se lembrarem,
os muito jovens escutarão.
Guarda algumas brasas
do fogo
que costumava arder na tua
aldeia,
regressa um dia
para que todos se possam reunir
de novo
e reacende uma nova chama,
para uma nova vida num mundo que
mudou.
Anda ao de leve,
segue as minhas pegadas
até nos encontrarmos de
madrugada.
Levanta-te serenamente,
deixa que os teus lábios dêem
louvores
ao novo sol.
Conheci-te
quando as tuas florestas eram
minhas;
quando me davam a minha carne
e a roupa.
Conheci-te
nas tuas correntes
e rios
onde o teu peixe luzia
e dançava ao sol,
onde as águas diziam vem,
vem e come da minha abundância.
Conheci-te
na liberdade dos teus ventos.
E o meu espírito,
como os ventos,
em tempos vagueava nas tuas boas
terras.
Por milhares de anos
Falei a linguagem da terra
e escutei as suas muitas vozes.
Tirei o que precisava
e dei conta que havia que
chegasse para todos.
Os rios eram transparentes e
engrossados de vida,
o ar era puro e dava espaço
ao bater de asas incontáveis.
Em terra, uma profusão de
criaturas abundava.
Caminhava, alto e orgulhoso
conhecendo os recursos do meu
povo,
sentindo as benções do Espírito
Supremo.
Vivi irmanado com todos os
seres.
Media o dia
pelo trajecto do sol ao longo do
céu.
O passagem de ano era anunciada
pelo retorno do salmão
ou pelos pássaros acasalando
para fazerem ninho.
Entre o primeiro fogo do
acampamento e o último
de cada dia, ia em busca de
comida,
fazia abrigos, roupa e armas,
e sempre encontrei tempo para
rezar.
A sabedoria e eloquência do meu pai
passei-a aos meus filhos,
assim, também eles adquiriram
fé,
coragem, generosidade,
compreensão,
e conhecimento da maneira
correcta de viver.
Tais são as memórias de ontem!
Hoje, a harmonia continua a
viver na natureza,
embora tenhamos menos vida
selvagem,
menos variedade de criaturas.
Cada vez menos pessoas conhecem
a toca da puma
nos montes, nem seus olhos
seguiram
o voo picado da águia, quando
escreve infinitos
círculos no ar morno.
A beleza selvagem da linha costeira
e o sabor do nevoeiro marítimo
permanecem escondidos
por trás das janelas dos carros
que passam.
Quando a última pele de urso for
tirada
e a última cabeça de carneiro
for arranjada
e lhe puserem olhos de vidro,
neles poderemos encontrar o
reflexo
das memórias de hoje.
Cuidado, ou bem depressa os
nossos ouvidos terão de se esforçar
em vão par escutar a canção do
criador.
Quando rezo,
rezo
por tudo quanto é vivo.
Quando
dou graças,
dou
graças por todas as coisas.
Um
homem
que vive e morre na floresta
conhece
a
vida
secreta das árvores.
Olhem
para
os
rostos do meu povo:
Encontrareis
expressões
de
amor e desespero,
esperança
e
alegria,
tristeza e desejo, e todos os
sentimentos
humanos
que
vivem nos corações das pessoas
de
todas
as cores. Porém, o coração nunca conhece
a cor da pele.
Depois
dos
ventos
frios e gelados do Inverno, a vida
brota
de novo do seio da
Mãe
Terra.
E
a Mãe Terra atira fora
os
ramos
mortos e as hastes secas
porque
não prestam. Em lugar
deles, novos e
fortes
rebentos se erguem.
Já
sinais
de
nova vida se erguem
entre
o meu povo depois que o nosso triste Inverno
passou.
Deitámos
fora
os nossos arcos
partidos
e
as
aljavas vazias, porque sabemos
que
o que nos serviu no passado jamais nos servirá de novo.
As pequenas coisas
são importantes,
porque
são pequenas
vemo-las
mas
não as entendemos.
Manuscrito da Catedral de Westminster, Julian acerca da Avelã
Folhas de oliveira italianas, abençoadas; avelã australiana
A Terra Vista do Espaço pela Primeira Vez
A beleza das árvores,
a brandura do ar,
a fragrância da erva,
falam comigo.
O cume da montanha,
o trovão do céu,
o ritmo do mar,
falam comigo.
As estrelas que se apagam,
a frescura da manhã,
a gota de orvalho na flor,
falam comigo.
A força do fogo,
o sabor do salmão,
o rasto do sol,
e a vida que nunca vai embora,
Eles falam comigo.
E o meu coração voa às alturas.
'Julian's Showings' de Alan Oldfield.
Da Austrália para a Capela de S. Gabriel, Comunidade de All
Hallows, Ditchingham, Near Bungay, Suffolk. Fotografia, Irmã
Pamela, C.A.H. Reproduzido com autorização da Comunidade
de All Hallows e de The Friends of Julian, Norwich.
A memória do meu povo
alcança
o começo de todas as coisas.
'Cântico de São Sérgio', Don Divo Barsotti, C.F.D.
Uma
rosa
selvagem murmura encantos para o esquilo,
uma
criança ama primeiro toda a gente.
Há um desejo no coração do meu povo de alcançar e agarrar o que é necessário para a nossa sobrevivência. Há um desejo entre os jovens da minha nação de assegurarem para si mesmos e para o seu povo, competências que lhes forneçam um sentimento de valor e objectivo. Eles serão os nossos novos guerreiros. O seu treino será muito mais demorado e mais exigente do que era nos velhos tempos. Os longos anos de estudo irão exigir mais determinação, a separação da casa e da família exigirá resistência. Mas eles virão ao de cima de mão estendida, não para receber protecção, mas para agarrar o lugar na sociedade que é por direito nossa.
Sou um chefe, mas o meu poder de fazer a guerra desapareceu e a única arma que me foi deixada é a fala. É apenas com língua e fala que posso lutar pela guerra do meu povo.
Ó, Grande Espírito! devolve-me a coragem dos antigos
Chefes. Deixa-me lutar com o que me rodeia. Deixa que uma vez
mais viva em harmonia com o meu ambiente. Deixa que aceite com
humildade esta nova cultura e através dela me levante e
continue. Como o antigo 'pássaro do trovão', erguer-me-ei de
novo para fora do mar; hei-de arrebatar os instrumentos do
sucesso do homem branco - a sua educação, as suas
competências. Com estas novas ferramentas farei da minha raça
a porção mais brilhante da vossa sociedade. Hei-de ver os
nossos jovens valentes e os nossos chefes, sentados nas casas
da lei e do governo, governando e sendo governados pelo
conhecimento e pela liberdade da nossa grande terra.
Esta
foi
uma
boa fala!
Tendo regressado da Austrália, encontrei lá
populações Aborígenes com a mesma mensagem. Ver Recensão no
Website Folhas de Oliveira sobre Rainbow
Spirit
Theology. Escutemos os Mais Velhos da Terra e o seu
Tempo do Sonho em ordem ao nosso comum Futuro. JBH
Ir para o Website das Folhas de Oliveira
Ir para o Website do seu Escritório
Ir para o Website da sua Biblioteca
Ir para o Website de Brígida da Suécia
Ir para o Website de Julian de Norwich
Ir para o Website do Espelho dos Santos
Ir para o Website de Bíblia e as Mulheres
Ir para o Website do Index dos Amigos de Deus
'Catálogo da Terra Inteira' (Ofícios , Livros )
Recensão de Livros Encoraja-se a Apresentação
Bibliografia Encoraja-se
a Apresentação
Websites de Julian de
Norwich, Revelação e seus Contextos , Folhas de Oliveira , Carmo
Silva, Julia
Bolton Holloway , 1997/2024
To donate to the restoration by Roma of Florence's
formerly abandoned English Cemetery and to its Library
click on our Aureo Anello Associazione's
PayPal button: THANKYOU! |