Dona Bridget More, O.S.B.
{Dona Margaret Gascoigne, O.S.B., uma monja Beneditina Inglesa no exílio em Cambrai, na Flandres, aí morreu em 1637, sendo dela a primeira campa dentro da protecção da sua casa monástica (1). Antes desta data, tinha compilado uma antologia contemplativa das suas devoções. No Capítulo Quarente e Dois dessa antologia, copiou um fragmento de um exemplar medieval de Julian, provavelmente existente em Cambrai, comentando o texto. Enganando-se na leitura, ou lendo apenas uma parte to texto, pensando que Julian morreu e não sobreviveu a seguir à sua visão no leito de morte, em 1373. Não obstante, reage adequadamente à leitura, levando a experiência da presença de Deus de Julian, para a sua própria intensa vida de oração monástica. Ao realiza-lo, faz parte duma continuidade na contemplação - uma continuidade que transcende tempo e sexo, preocupando-se apenas que a alma se una a Deus na eternidade -, a ser alcançada numa comunidade onde todos se dedicam à conversão da mundaneidade para a estabilidade e a obediência.
O livro de devoções de Dona Margaret Gascoigne foi provavelmente encontrado na sua cela quando morreu e altamente estimado pelas suas Irmãs Beneditinas que, precisamente, o copiaram quando foi fundada, em Paris, a casa-filha de Cambrai. A cópia que sobreviveu, chamado por Placid Spearitt, O.S.B., 'Gascoigne B', foi realizada, da forma mais cuidada, por Dona Bridget More, O.S.B., descendente de Thomas More, irmã da fundadora de Nossa Senhora da Consalação, de Cambrai, Dona Gertrude More, ela própria a primeira Prioresa de Nossa Senhora da Boa Esperança, de Paris. Uma outra parente de ambas foi Dona Agnes More, uma vez mais uma descendente de Thomas More, que escreveu um tratado influenciado por Julian de Norwich, intitulado The Building of Divine Love. Entretanto, Dona Clementia Cary, O.S.B., Fundadora da casa de Paris; sendo a filha do Visconde de Falkland, Vice-Rei da Irlanda, tinha contactos com a realeza Carolina, especialmente com a Rainha Henrietta Maria. Ela trouxe consigo para a comunidade o capelão de seu pai, Serenus Cressy, O.S.B., que viria a publicar a primeira edição de Revelação de Julian de Norwich, em 1670.(2) Dona Margeret Gascoigne era irmã de Dona Catherine Gascoigne, O.S.B., eleita como primeira Abadessa de Nossa Senhora da Consolação, de Cambrai, em 1629, ambas provenientes de Yorkshire. Sua sobrinha, Dona Justine Gascoigne, sucedendo a Dona Bridget More, Prioresa de Nossa Senhora da Boa Esperança, de Paris, em 1665.
Este grupo de mulheres Inglesas fixou-se em Cambrai em 1623 e, passados seis meses, tinham feito uma petição ao Superior da Congregação Inglesa, para lhes ser enviado um monge qualificado para as treinar na oração contemplativa Beneditina. Como resposta, o Padre Augustine Baker, O.S.B., juntou-se a elas em 1624, tornando-se o director espiritual da comunidade até à sua remoção tempestuosa em 1633, quando voltou a Douai. Regressou a Inglaterra em 1638, aí morrendo em 1641.
A casa-filha de Paris, fundada em 1651, deu origem a um intenso surto de cópia de todos os livros de devoção da biblioteca de Cambrai, anteriormente à mencionada remoção do Padre Augustine Baker, tendo o maior número de cópias sido executado por Dona Barbara Constable, que se tinha juntado à comunidade de Cambrai, vinda de Yorkshire em 1645,(3). Os livros copiados incluiram o manuscrito de Dona Margaret Gascoigne (G), por Dona Bridget More, o manuscrito fragmentário de Revelação (U) de Julian, por Dona Barabara Constable e o manuscrito completo de Revelação (S1) de Julian, por Dona Clementia Cary. Encontra-se um outro manuscrito completo, juntamente com S1, a que foi dado a sigla S2. Ambos os manuscritos possuem cuidadas anotações feitas como preparação para a primeira edição de 1670. No entanto, um outro manuscrito, Stowe 42, é o mais cuidadosamente tratado, fazendo com que interrogações e NBs de S1 e S2 sejam anotações cuidadosamente feitas mas não completamente acabadas, a partir das quais será composta a edição em 1670 de Serenus Crassy. Todos estes manuscritos tendem a apresentar as palavras de Cristo a Julian em tamanho maior que a letra do texto em que estão inseridas.
Como terá vindo parar às mãos de Margaret Gascoigne e das comunidades de Cambrai e Paris, um exemplar medieval da Revelação de Julian? Há a possibilidade de terem adquirido um exemplar do Texto Longo de Paris, Bibliothèque Nationale, Anglais 40 (que naquele tempo estava fechado na colecção Bigot em Roão), mas que tenha sido copiado pela Abadia de Syon no exílio, na Flandres. Podem ter obtido esse exemplar de Sheen Anglorum. Mas os manuscritos G, U, S1 e S2, todos diferem de P porque aumentam ou sublinham as palavras de Cristo a Julian, enquanto P as escreve a vermelho (rubrica). Outra possibilidade é a de Dona Margaret Gascoigne ter guardado em grande estima um manuscrito de Julian que permanecera na sua família desde os tempos de Thomas Gascoigne, Chanceler de Oxford e patrono da Abadia de Syon(4), e que, por sua vez, estaria na origem de G, U, S1, S2, C1 e da edição publicada por Serenus Cressy C2, a partir de C1.
Estes textos foram lidos e copiados no seio duma vida de comunidade, de oração e contemplação, uma comunidade que hoje continua em Stanbrook e em Colwich. Mas as Irmãs tiveram de lutar com todas as armas do amor e da obediência para conseguirem preservar os seus manuscritos, incluindo o manuscrito da Revelação de Julian de Norwich. Em 1655, receberam a ordem de Dom Claude White, então Superior da Congregação Beneditina Inglesa, de entregarem os seus livros contemplativos, encarados como 'contendo doutrina venenosa, perniciosa e diabólica'. A Abadessa e as Irmãs prostaram-se aos pés de Dom White, recusando-se, na caridade, a entregar os livros (um deles o exemplar manuscrito da Revelação de Julian),
Rogamos humildemente a Vossa Reverendíssima Paternidade que nos perdoe não lhe respondermos com a simples palavra Sim ou Não, tendo já dado a Vossa Paternidade muitas razões pelas quais não podemos responder Sim e, quanto ao Não, sem as circunstâncias adequadas, receámos que isso pudesse dar mostras de desrespeito por Vossa Reverendíssima Paternidade, a quem devemos e para com quem desejamos praticar atenciosamente obediência e respeito.(5)
Text:
deere child of thine, Lette me alone, my deare worthy childe, intende (or attende) to me, I am inough to _______________________ |
Texto:
Vós dissestes, Ó Senhor, a uma querida filha vossa, Deixa-me ficar só a mim, minha querida e preciosa filha, presta-me atenção, eu basto-42 ___________________ |
thee; reioice in thy
Sauiour and Saluation (this
was spoken to Julian the Ankress or norwich as
appeareth by the book of her reuelations); This o
Lorde I reade and thinke on with great ioie, and cannot but take it as spoken allso to me; Thou therein biddest me lette thee alone; to which I can not but answere and readilie yealde & submitte my selfe, sayeng;O yes, my Lorde; for what doe I desire more then to Lett thee alone in all things which thou wouldest do or permitte in me, or concerning me, which I am most as= sured wholie to be intended by thee for the cleansing and saluation of my soule, as yet most vncleane & vn= worthy of thee; thou wouldest for that end purge me of all impedi= ments in my waie of sincere tend= |
te; alegra-te no teu Salvador e na tua Salvação (isto foi dito a Julian, a Anacoreta de Norwich como testemunha o livro da sua revelação). Isto, ó Senhor, eu leio e medito com grande alegria e não posso senão entendê-lo como dito a mim. Aí, Vós me ordenais que vos deixe ficar só a Vós, coisa a que não posso deixar de responder e pressurosamente inclinar-me e submeter-me, dizendo: Ó sim, meu Senhor! Pois, que mais desejo eu senão de vos deixar ficar só a Vós em todas as coisas que queirais fazer ou permitir em mim, ou que me digam respeito, das quais tenho absoluta certeza serem todas ordenadas à purificação e salvação da minha alma, no entanto, muito impura e indigna de Vós. Para tal fim, Vós quereis purificar-me de todos os impedimentos no meu caminho de sincera procura |
dance towards thee and
seruing of thee, whereby thou mightest allwaies finde me as pliable to thy Blessed will, as waxe before the fire in the hande of the aartesman is pliable to the maner of his working. Intende to me, saiest thou, and thou knowest, that that is it which I aime at, and seeke to do at all times, both daie and night, and nothing ells, but that I maie continuallie attende to thee, |
de Vós e do vosso serviço; assim me me pudésseis achar sempre tão dócil à vossa Bendita vontade, como a cera diante do fogo nas mãos do artífice é dócil à forma como ele trabalha. Presta-me atenção, dizeis Vós, e Vós sabeis que é isso memo que desejo e procuro fazer sempre, dia e noite, e nada mais possa eu senão continuamente prestar-vos atenção, |
And in her last sicknes, she caused these words to be placed before her eyes at the crucifixe, which she regarded till her death); |
(E na sua última doença, ela quiz ter estas palavras diante dos olhos fixados no crucifixo, que olhou até morrer;) |
Thou saiest allso; I am inough to thee; and to this I would willinglie an= swere with the tongues & voices of all creatures, saieng; Yes, my deare Lorde, thou alone indeed art inough to me; for if all friends turne into _____________________________ |
Vós dizeis também, Eu basto-te; e a isto eu desejaria muito responder com as línguas e vozes de todas as criaturas, dizendo: Sim, meu querido Senhor, vós apenas, verdadeiramente, me bastais. Porque mesmo que todos os amigos se tornassem _________________________ |
foes, & all pleasures into paines, yet art thou inough to me,these other things being all as nothing in regarde of thee, who hast all good in thee, and art and euer shallt be all in all to me, And euen but to remember these thy most delicious wordes; I am inough to thee, is so great a ioie to my hart, that all the afflictions, that are, or (as I hope) euer shall fall upon me (at least which I can imagin) do and shall cause me to receaue from them somuch comforte, solace, and encouragement, as that I hope by thy grace, they shall be most dear= lie welcome vnto me. Thou there saiest farther, reioice in thy sa= uiour and in thy saluation; but though my loue be so colde, that I am farre from goeng this as I ___________________________ |
inimigos e todos os
prazeres em dores, mesmo assim me bastaríeis, essas
outras coisas sendo como nada camparadas a Vós, que
tendes todo o bem em Vós mesmo e sois e sempre
sereis tudo em tudo, para mim. Porque apenas a
lembrança destas vossas tão deliciosas palavras, 'Eu basto-te' , são
tão grande alegria para o meu coração, que toda a
aflição que me aconteça ou (como espero) alguma vez
venha a acontecer (pelo menos tanto quanto posso
imaginar) será causa para eu receber delas tão
grande conforto e alívio, e coragem que, tal como
espero pela vossa graça, elas serão acolhidas por
mim com grande amor. Vós dizeis adiante: alegra-te no teu Salvador e na tua
Salvação. Mas o meu amor é
tão frio que estou longe de assim fazer
_________________________ |
ought, yet I desire that with all the might, and powers of my soule, and with all the affection of my harte, I could reioice in thy infinite happines; and though my soule be neuer so poore and in neuer so great miseries, yet I desire according to such abilitie as is in me of thy gift, to ioy and reioy together with thee, for what thou art and doest possesse in thy immense riches, power and glorie, and in all that is pleasing to thee in all things, in thy selfe and in all thy creatures, in the riches of others, and my owne pouertie and miserie (for to them, whom thou art pleasing to, what thing of thine can be displeasing.) and what is wan= ting in me (through disabilitie) to performe in this matter, I will re= ioice and exullt in hart, that in all fullnes and perfection it is supplied ____________________________ |
como devia. No entanto, desejo com todas as forças e poderes da minha alma, e com toda a afeição do meu coração, poder alegrar-me no vossa infinita felicidade; e embora a minha alma nunca tenha estado tão pobre e em tão grande miséria, no entanto, desejo, segundo o poder que está em mim como dom vosso, alegrar-me e voltar a alegrar-me convosco, porque vós sois e possuís na vossa imensa riqueza, poder e glória, e em tudo o que for de vosso agrado, em todas as coisas, em Vós mesmo e em todas as vossas criaturas, nas riquezas dos outros e na minha pobreza e miséria (pois para aqueles que a Vós agradam, que coisa pode existir neles de desagradável) e no que me falta (por causa da minha incapacidade) conseguir nesta matéria. alegrar-me-ei e exultarei no meu coração, que por Vós mesmo seja dado por completo e de modo perfeito ________________________ |
and aboundeth in thee
thy self, where I hope my selfe accordinglie in the time which thou hast from eternitie foreordained for it, to finde by ex= perience such supplie and amends for all mine and other creatures in= sufficiencies in the matter. I farther= more reioice in my Saluation which I confidentlie hope in vertue of thy most free and liberall goodnes, in the end to obtaine at the handes of thy mercie, and in no sorte as if I could expect anie such matter as due to me or merited by me, nor anie other waies to be attained to by me, then by thy free giuft and meere mercie (in vertue of the grace and deserts of my most deere Lorde and sauiour Jesu Christ thy onlie and most dearelie beloued sonne) ____________________________ which mercies and
goodnesses of thine I haue allreadie in various
maners euen in my owne most unworthie selfe so
greatlie and so frequentlie experienced, that
|
e em abundância,
esperando que eu, de acordo com o momento que vós
preordenaste desde a eternidade, encontre e
experimente esse dom em abundância e emenda para
todas as minhas insuficiências e das de todas as
criaturas. Também, ainda, me alegro na minha Salvação
que confiadamente espero vir a obter no final em
virtude da vossa imensa livre e generosa bondade,
das mãos da vossa misericórdia e de modo algum como
se esperasse tal coisa como devida a mim ou merecida
por mim, nem de algum modo a possibilidade de a
tingir senão pelo vosso livre dom e simples
misercórdia (em virtude da graça e méritos do meu
muito amado Senhor e salvador Jesus Cristo vosso
único e muito amado filho),
_____________________ misericórdia essa e bondade vossa que já experimentei de vários modos tão magníficos e frequentes na minha muito indigna pessoa, de tal modo a não mais poder nem vir a duvidar daqui para a frente, mas antes para sempre poder, dever e até ao fim confiar esperançadamente e deste modo neleas me apoiar e totalmente confiar. |
Notas
1.'Dame Catherine Gascoigne, 1600-1676', In a Great Tradition: Tribute to Dame Laurentia McLachlan, Abbess of Stanbrook, ed., The Benedictines of Stanbrook, p. 18.
2. [Sr. Benedict], How We Began: The Monastery of Our Lady of Good Hope, St Mary's Abbey, Colwich.
3. Placid Spearitt, O.S.B., 'The Survival of Mediaeval Spirituality Among the Exiled English Black Monks', American Benedictine Review 25 (1974), pp. 289-293.
4.'Dame Catherine Gascoigne', In a Great Tradition, ed. Benedictines of Stanbrook, p. 4. Para Thomas Gascoigne, ver Julia Bolton Holloway, Saint Bride and her Book: Birgitta of Sweden's 'Revelations'; Birger Gregersson e Thomas Gascoigne, The Life of St Birgitta, ed. Julia Bolton Holloway. Thomas Gascoigne obsessivamente coleccionou e anotou todos os assuntos relativos a Santa Brígida e ter-se-ia interessado, de modo semelhante, pela sua contemporânea inglesa.
5. 'Dame Catherine Gascoigne', In A Great Tradition, ed. Benedictines of Stanbrook, p. 25.
6. Integrado no Catholic Record Society 13 (1913) e reproduzido no opúsculo em capa dura, juntamente com o desenho a lápis do retrato de Dona Bridget More, O.S.B., contendo ainda o opúsculo, o facsimile do texto manuscrito H18.
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